A história do título brasileiro de 2002 é tão extraordinária que valia um livro. Ou melhor, valeu. O jornalista Alex Sabino, na época trabalhando para o diário “Lance!”, teve a sorte de acompanhar a segunda geração dos Meninos da Vila passo a passo, desde o lançamento de Diego e Robinho no time profissional até a consagração de 15 de dezembro, e transformou essa história em “O time que nunca seria campeão”, livro lançado de forma independente que conta os bastidores da epopeia alvinegra.
Torcedor do Santos, Sabino colocou na obra as agruras vividas por ele – e por todos os demais santistas – nos terríveis anos 90 só para tornar ainda mais saborosa a explosão de alegria ocorrida em 15 de dezembro de 2002. Em entrevista ao DIÁRIO DO PEIXE, Sabino, hoje na “Folha de S. Paulo”, recordou uma época incrivelmente feliz para todos os torcedores do Santos. E para ele também, é claro.
Por que você decidiu deixar registradas em um livro as suas lembranças da campanha de 2002?
A ideia surgiu em 2004, quando o Santos conquistou o Brasileiro novamente. Embora tenha sido uma ocasião alegre, como todos os títulos são, a euforia não foi a mesma. A conquista de 2002 foi única pelo que aconteceu antes e durante o Brasileiro. O livro é uma trajetória de 19 meses que mostra como o clube conseguiu chegar à beira do abismo e foi salvo de forma improvável por uma geração de garotos. Era uma história boa demais para não ser registrada em livro e (aí entra a minha sorte) eu estava em posição privilegiada para escrever sobre isso porque presenciei tudo e tinha um arquivo de anotações de coisas pontuais. Era o cenário perfeito.
Qual foi para você o momento mais marcante daquela campanha do título brasileiro?
É difícil fugir do clichê de citar as pedaladas de Robinho ou a bicicleta de Alberto porque são momentos marcantes demais. De certa forma, são as duas jogadas que definiram as carreiras desses dois jogadores (o próprio Robinho ainda chama a si mesmo de “Pedalada”). O momento mais marcante, para mim, foi um jogo que o Santos perdeu. Foi quando Diego fez o gol de pênalti e sapateou sobre o escudo do São Paulo no Morumbi. Não pelo ato desrespeitoso em si, mas pelo ar de desafio que o Santos mostrou naquele clássico. Ali estava um time que antes do campeonato todos colocaram como candidato ao rebaixamento indo buscar o empate no Morumbi lotado e jogando no ataque contra a melhor equipe do Campeonato Brasileiro. O Santos perdeu, mas não saiu de campo derrotado naquela noite, ao contrário do que havia acontecido tantas vezes nos anos anteriores.
O título do seu livro já deixa claro o quanto aquela conquista era improvável. Em que momento você começou a acreditar que era possível ver o Santos campeão?
No primeiro jogo da semifinal, contra o Grêmio. Pelo resultado (3 a 0) e pela atuação. Se houvesse placar moral no futebol, o Santos teria vencido por 9 a 0. Foi uma avalanche.
Por ser um jornalista que trabalha em um veículo de grande circulação, você em algum momento teve receio de expor a sua condição de torcedor do Santos?
Sim, claro. Todo jornalista sente isso em algum momento. É pior ainda para o setorista, que se vê obrigado a criticar o clube, os dirigentes ou o treinador. Graças a Deus, naquela época não existiam redes sociais e todo esse ódio destilado sob a proteção do anonimato. Porque muitos torcedores o veem como inimigo. Hoje não tenho mais isso, mas em 2002 existia, sem dúvida.
O dia 15 de dezembro de 2002 é o mais feliz da sua vida de torcedor?
É o dia de final mais feliz, mas o jogo da minha vida é o de 10 de dezembro de 1995, a segunda partida da semifinal entre Santos e Fluminense. Explicar o que Giovanni representou ou representa para o santista que cresceu entre as décadas de 80 e 90 é impossível para os santistas mais jovens ou para os torcedores de outras equipes.
Qual era o seu jogador preferido naquele time de 2002? E por quê?
Diego. Ele foi o melhor jogador do Santos naquele Brasileiro. Era um meia que tinha apenas 17 anos e jamais se escondia do jogo. Era acessível, inteligente, dava boas entrevistas e jogava aquilo tudo. Depois que Pita saiu da Vila Belmiro em 1984 (naquela troca indecente por Humberto e Zé Sérgio), foi o maior camisa 10 revelado pelo clube. Se as pedaladas de Robinho foram o símbolo do titulo, a peça mais importante do time foi Diego.
Como repórter, fazer a cobertura daquele time era mais fácil ou mais difícil do que com outras equipes que o Santos teve nos seus tempos de setorista?
Era mais fácil. Mais fácil e, principalmente, mais divertido. Acho que o livro mostra isso. Por serem jovens, acessíveis, simples e terem surgido antes da castradora ditadura de assessorias de imprensa, estafes e amigos de boleiros, era ótimo cobrir o Santos naquela época. Um tempo que infelizmente (não por mim, mas por quem veio depois) não voltará
No livro fica claro que sua relação com Emerson Leão era conflituosa. Você ainda tem algum problema com ele?
Não, não tenho. Já falei com o Leão algumas vezes depois disso e a relação foi cordial. Ele não passou a me achar o melhor jornalista do mundo, mas isso não é problema. Eu também não me acho… Sou grato a ele pelo título de 2002. Nossas divergências ficaram no passado. Pelo menos é o que espero.
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