Santos termina segundo trimestre de 2023 em déficit (Foto: Divulgação / Santos FC)

O Santos divulgou um balancete do segundo trimestre deste ano, revelando um déficit de R$ 10,2 milhões, um desvio negativo considerável em relação ao orçamento projetado de R$ 6,3 milhões. Essa diferença de R$ 3,9 milhões foi impactada por diversos fatores, incluindo o desempenho abaixo das expectativas nas competições.

As vendas dos jogadores Ângelo e Deivid Washington para o Chelsea, totalizando cerca de R$ 157 milhões, não foram incluídas neste relatório, devendo aparecer nos números do terceiro trimestre. O principal motivo apontado para o déficit foi o desempenho ruim do time nas competições, resultando em uma diferença financeira de aproximadamente R$ 16 milhões em relação às previsões.

O Conselho Fiscal também observou um aumento de 2,84% na média trimestral de funcionários em comparação com o primeiro trimestre de 2023. Isso é um ponto de atenção, já que a gestão inicialmente visava reduzir e otimizar o quadro de funcionários. A folha salarial, incluindo encargos, teve um aumento de 7,71%, chegando a R$ 9 milhões em junho.

Quanto ao financiamento, o Santos conseguiu captar R$ 61,6 milhões até junho de 2023 por meio de um acordo com o Banco Safra, sendo R$ 6,8 milhões destinados ao pagamento de salários. Este mecanismo de funding permitiu ao clube obter financiamento com juros mais baixos em comparação com o mercado.

Há também uma dívida com o presidente Andres Rueda, que emprestou dinheiro para cobrir o calote de Cleber Reis na gestão anterior. Essa dívida alcançou R$ 23,8 milhões no segundo trimestre e é atualizada mensalmente pela taxa SELIC, com juros de 1% ao mês e multa de 5%. Rueda afirmou que planeja pagar parte dessa dívida ainda este ano, priorizando dívidas mais urgentes.

Em resumo, o Conselho Fiscal destacou a necessidade de melhores resultados esportivos, pois a falta de sucesso no futebol afeta negativamente as finanças do clube, levando a um uso excessivo de financiamentos e antecipação de receitas para cobrir as despesas. Além disso, o clube enfrenta desafios na gestão de pessoal e no controle de gastos.

Reunião do Conselho com Andres Rueda

No inicio de setembro, o Conselho Fiscal convocou o presidente Andres Rueda para uma reunião extraordinária as seguintes pautas:

  1. Como serão aplicados os recursos obtidos pela venda de atletas na janela de negociação, a fim de que se evite a catástrofe de sermos rebaixados no Campeonato Brasileiro de futebol.
  2. Esclarecimentos sobre o não cumprimento do planejamento na área de gestão do futebol, que tem causado prejuízos financeiros e de imagem, com a contratação de atletas não qualificados, demissões sucessivas de técnicos com pagamento de multas rescisórias e afastamento de atletas (patrimônio do clube).
  3. Esclarecimento sobre o não cumprimento das metas de premiação de performance contidas na proposta orçamentária, mais especificamente no Campeonato Paulista, Copa Sul-americana e na Copa do Brasil.
  4. Esclarecimentos e planejamento sobre o pagamento do empréstimo feito pelo presidente feito na gestão passada.
  5. Esclarecimentos e planejamento sobre o pagamento do funding.

O presidente justificou da seguinte forma:

  1. Os recursos auferidos com as vendas de jogadores nesta janela, serão alocados conforme previsão orçamentária. Pretendemos com a venda específica do Angelo, liquidar duas dívidas que a muito vem incomodando as finanças do clube: Leandro Damião e Cueva. Também será utilizado uma parte da receita para aquisição de jogadores nesta janela. Pretendemos também quitar uma parte da divida contraída com a presidência na gestão anterior. O remanescente será utilizado no fluxo de caixa do clube para honrar impostos, folha de pagamento etc.
  2. A única multa rescisória que o clube teve foi com o Odair Hellmann, que mesmo assim, foi negociada e será paga até dezembro. Todas as contratações de atletas desta gestão, passaram pelo crivo do nosso departamento de scout, comissões técnicas, gerência de futebol e Comitê de Gestão. Com poucos recursos financeiros, tentou-se trazer jogadores com potencial. Existiram erros e acertos, porém tomamos sempre o cuidado de minimizar os eventuais prejuízos financeiros com salários relativamente baixos. A maioria dos “erros” em contratações ou deixaram o clube ou foram emprestados a outros cubes.
  3. O time não teve o desempenho esperado e infelizmente as metas e premiação orçadas não foram alcançadas, tendo a gestão que buscar fontes complementares de receita.
  4. Pretendemos com a venda do Ângelo pagar uma parte do empréstimo feito na gestão passada e com uma eventual nova venda saldar essa dívida.
  5. O funding, nada mais é do que um empréstimo bancário feito pelo Santos FC utilizando-se garantias de sócios do clube. No planejamento está prevista a quitação do máximo possível destes empréstimos até o fim do ano.

Conclusão do Conselho Fiscal

Como exposto nas páginas de 1 a 15 no que se refere as demonstrações financeiras em nossa análise não encontramos nenhum fato que nos leve a acreditar que as demonstrações financeiras não apresentam todos os aspectos da posição patrimonial e financeiras do Santos Futebol Clube em 30 de junho de 2023. Para obtenção deste resultado contábil é inegável que foi necessário um rígido controle para o pagamento das contas correntes, honrar ações antigas, renegociando dívidas e controlar o fluxo de caixa, mas com receitas ordinárias insuficientes a gestão recorreu ao uso do funding e a antecipação de recebíveis. É uma conta que não fecha, gastamos mais do que arrecadamos, salientamos que o déficit do trimestre só não foi maior devido ao clube ter ganho uma ação antiga movida contra o Fisco Nacional, na ordem de 4 milhões, que reduziu o impacto da homologação jurídica do Regime Centralizado de Execuções que atualizou o total da divida com os credores.

Cabe salientar que, em nossa avaliação, ocorreu evolução na área administrativa com a implantação do departamento de Compliance, na gestão contábil, financeira, jurídica e transparência na disponibilização de informações pela administração.

Clamamos por um empenho máximo de todos os envolvidos, junto aos Órgãos Públicos na efetivação da compra do imóvel do CT e junto a WTorre na assinatura do MOU, de modo que a Arena finalmente saia do papel. São assuntos de extrema importância para o Clube que salvo melhor juízo de nossa parte vem se arrastando a muito tempo.

Nós deste conselho fiscal procuramos sempre ser propositivos em nossas colocações visando o engrandecimento de nossa instituição.

Diante disso, temos visto que equívocos sucessivos na gestão do futebol têm se repetido desde 2021, sempre expostos em todos os nossos pareceres e relatórios. A falta de sucesso em nossa atividade fim, o futebol, resulta em nossa retração no cenário nacional. Enquanto não tratarmos gasto com futebol como investimento, vamos nos retrair de forma sistêmica, fazendo com que cada vez mais a visibilidade no cenário futebolístico nacional e internacional se reduza e caiam nossas receitas.
Mas então como fazer diferente? Entendemos que isso passa por um planejamento onde todos terão sua parcela de responsabilidade no resultado obtido.

Nosso estatuto prevê inúmera travas e controles na área financeira da gestão. Temos controles de orçamentos de destinações obrigatórias de verbas aos departamentos de limites de endividamento e déficit, de regularidade no pagamento de impostos e da folha de pagamento, é quase impossível que uma administração cumprindo essas determinações não torne o Clube em pouco tempo saudável financeiramente.

O que falta são exigências de performance esportiva. Quando a administração contratar um executivo de futebol e uma comissão técnica, esperamos que sejam vitoriosos e de qualidade, que os contratos estabeleçam resultados minímos de performance sob pena de rescisão sem pagamentos de multas ou indenizações. No modelo atual um profissional incompetente na maioria das vezes é premiado.

Um segundo ponto é a alteração na política de contratações. O modelo adotado por essa gestão desde 2021 foi a contratação de um número alto de atletas, alguns de capacidade duvidosa, com valores menores e parcelados como “apostas”, nitidamente alguns atletas foram contratados sem análise de scout, aval do técnico e do executivo de futebol, na nossa ótica o correto seria um número reduzido de atletas de melhor qualidade e custos talvez um pouco maiores. Esse último modelo é o utilizado pelos Clubes de maior sucesso no mundo.

O terceiro ponto que passa por um planejamento a médio prazo, são as renovações de contrato no plantel. Uma vez que não é possível a rescisão antecipada de um contrato de um jogador que tenha desempenho abaixo do esperado, uma prorrogação compromete as receitas do Clube por um longo período, inviabiliza uma qualificação no elenco e deve ser efetivada com extrema cautela o que a nosso ver não vem ocorrendo.

Estamos com o valor de folha de pagamento comprometida para o próximo ano, os superávits obtidos em 2021 e 2022 e possivelmente o que será obtido em 2023 foi decorrente da venda, queima de estoque de nossas promessas, que ajudaram a reduzir à divida, porém as vendas ocorreram da forma que o comprador conhecendo nossa fragilidade e necessidade pagou o que quis, foi nítido que nossos rivais negociaram suas promessas por valores superiores aos nossos, se não planejarmos para os próximos meses as despesas do departamento de futebol profissional, atingiremos um ponto que nem com a venda de nossos melhores jogadores conseguiremos atingir o equilíbrio em nosso orçamento.

Os custos e despesas permanecem por alguns anos, mas as receitas nem sempre aumentam, patrocínios dependendo de nossa realidade dentro de campo tendem a cair, nossa bilheteria devido a falta de capacidade da Vila Belmiro não gera mais renda significativa.

Financeiramente, hoje se não estamos numa situação confortável, estamos em razoável equilíbrio com compromissos em dia, ao custo do funding, antecipações e vendas de nossas promessas, mas a um custo altíssimo, tendo em vista que nesta gestão corremos risco de rebaixamento em todas as competições que participamos, nas outras de mata-mata fomos eliminados precocemente, perdemos praticamente todos os clássicos contra nossos principais rivais, sem contar o risco que ainda corremos nesse campeonato brasileiro, sem uma extrema atenção no departamento de futebol e um gerenciamento profissional, é que nos levará novamente a razão de nossa existência.

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