Giovanni marcou época na década de 90 (Crédito: Divulgação)

Por Fernando Ribeiro e Vinícius Cabral, especial para o DIÁRIO DO PEIXE

Os pesquisadores Fernando Ribeiro e Vinícius Cabral, que escrevem os textos Jogos para sempre e Lendas da Vila para o DIÁRIO DO PEIXE, selecionaram aqui os cinco maiores meias do Alvinegro Praiano. Esses jogadores selecionados fizeram história com a camisa do Peixe. Em muitas oportunidades atuaram mais avançados ou como pontas de lança. Mas exerceram também a função de meia e foram responsáveis por milhares de gols. Confira abaixo o TOP 5 dos meias do Santos.

1 – Pelé

Rei ontem, hoje e sempre. Pelé, o maior de todos os tempos (Crédito: santos FC)

Meia, atacante, ponta de lança, centroavante e até goleiro. Pelé fez de tudo pelo Santos e pelo futebol mundial. É difícil delimitar uma posição quando se trata do maior e melhor jogador da história do futebol.

Eleito o Atleta do Século 20 pelo Comitê Olímpico Internacional devido a tantos e tantos feitos com as camisas do Santos e Seleção Brasileira. Pelo Peixe foi avassalador: 1.091 gols em 1.116 partidas entre 1956 e 1974. Conquistou todos os títulos possíveis e imagináveis com a camisa alvinegra. Foram dez títulos do Paulistão, seis Campeonatos Brasileiros (cinco Taças Brasil e um Robertão), duas Libertadores, dois Mundiais, além de dezenas de outras taças. Pelé encantou por onde passou. Foi idolatrado, fez árbitro ser expulso, fez o país parar quando bateu o pênalti de seu milésimo gol. Fez um time, uma cidade e um país serem celebrados nos quatro cantos do planeta.

Sorte do Santos de ter Pelé em sua história, mas não podemos esquecer que quando o jovem chegou em Vila Belmiro, o time já era o atual campeão paulista (1955) e rumava para o bicampeonato. Aos poucos o jovem foi impressionando o técnico Lula e seus companheiros de time.

Somou-se a nomes como Pepe, Pagão, Formiga, Tite, entre outros. Mais adiante formou a maior dupla de ataque com Coutinho. Fez história com Dorval, Zito, Lima, Edu, Toninho Guerreiro e tantos outros craques. Na seleção jogou ao lado de lendas como Garrincha, Didi, Tostão e Gerson, que ajudaram Pelé a ser o único tricampeão da Copa do Mundo. É de Pelé também a marca de mais jovem a fazer um gol em Copas do Mundo, quando tinha apenas 17 anos em 1958. Também pertence a Pelé as cenas mais bonitas da Copa de 1970.

Na época do Pelé, o Santos chegou a comprar o Parque Balneário, numa aposta de que os jogos de cassino seriam liberados no Brasil. O hotel recebia os grandes nomes da política e economia no Brasil, além dos Reis do Futebol. Porém, os jogos não foram liberados.

Inevitavelmente surgem comparações com atletas de outras eras. Mas Pelé é um só. Como ele mesmo diz, seus pais Celeste e Dondinho jogaram a forma fora quando nasceu. Seu infinito repertório ia desde gols, assistências, arrancadas, cotoveladas, velocidade, impulsão, inteligência, preparo físico. Completo. Único.

Mineiro de Três Corações, Pelé debutou pelo Peixe no dia 15 de novembro de 1956 em vitória por 4 a 2 contra o Jabaquara. E como não poderia deixar de ser, fez um dos gols. Pouco jogou no ano de estreia, mas na temporada seguinte deu mostras do que era capaz. Anotou 65 gols e foi convocado pela primeira vez para a seleção. Dali em diante, empilhou gols, taças, recordes e fãs.

E não foi só no Santos e seleção brasileira que o Rei desfilou seu futebol. O Cosmos, de Nova Iorque, contou com o futebol do camisa 10 entre 1975 e 1977. O Rei foi para os Estados Unidos com a missão de popularizar o esporte por lá e ainda de quebra foi campeão nacional.

Um, dois, três, quatro chapéus e a conclusão de cabeça. Pouco mais de 10 mil pessoas estavam na Rua Javari no dia em que Pelé fez o mais belo de seus 1283 gols, em 1959. E 10 anos depois o Rei alcançou a marca de mil gols no Maracanã. Não importa o palco, Pelé nasceu para brilhar.

O dia 02 de outubro de 1974 marcou sua despedida do Santos e da Vila Belmiro. A vitória por 2 a 0 contra a Ponte Preta não tem importância diante da imagem do rei ajoelhando-se no centro do gramado onde tanto brilhou.

Voltou ao Santos na década de 90 para ser uma espécie de guru para a nova geração de Meninos da Vila. Fora das quatro linhas fez de tudo. Foi cantor, Ministro do Esporte, comentarista. Foi Rei.

O futebol é um antes de Pelé. E outro após Pelé. O futebol é Pelé.

2 – Araken

Araken, o craque antes de Pelé (Crédito: Reprodução)

Para muitos, Araken foi o maior jogador do Santos antes da chegada de Pelé. Sua história com o clube alvinegro vem de berço: filho do primeiro presidente do Peixe, Sizino Patusca, irmão do primeiro goleador santista, Ary Patusca, e primo do autor do primeiro gol oficial do clube, Arnaldo Silveira.

Aos 15 anos, começou nas equipes inferiores do clube. Estreou em 1920, em jogo-treino onde marcou quatro gols, impressionando a todos os presentes. Com apenas 20 anos, foi recrutado pelo Paulistano, que solicitou seu empréstimo para a primeira excursão de futebolistas brasileiros à Europa. Os brasileiros deram show e, inclusive, bateram a Seleção Francesa na série de amistosos.

Em 1927, fez parte de um dos melhores ataques da história santista. Foram 100 gols nas 16 partidas do Campeonato Paulista daquele ano, ainda hoje a maior média de gols da história da competição. O “Ataque dos 100 gols” não foi suficiente para trazer o título estadual a Santos, em 1927 – Araken e a cidade teriam que esperar oito anos para atingir a conquista.

Saiu do clube por questões pessoais em 1929 e com isso foi o único paulista a participar da Copa do Mundo de 1930, no Uruguai. Em briga de dirigentes cariocas e paulistas, apenas os do Rio de Janeiro jogaram o primeiro Mundial da história. Araken filiou-se ao Flamengo e assim pôde atuar.

Fez sucesso no São Paulo, recém-fundado, mas voltou ao clube do coração a tempo de conseguir sua maior conquista até então. O título paulista de 1935 foi o primeiro do Santos e o primeiro de uma equipe sediada fora da Capital. Araken marcou um dos gols na partida decisiva, diante do Corinthians, no Parque São Jorge.

Araken era rápido e ótimo finalizador. Em 192 partidas com a camisa alvinegra, marcou 177 gols. Na época, as camisas não eram numeradas, mas todas as fontes indicam que Araken usaria o número 10, pelo seu posicionamento em campo.

3 – Antoninho

Antoninho, craque e torcedor fanático do clube (Crédito: Reprodução)

Alguns jogadores tornam-se inesquecíveis em um clube pelos títulos que venceram. Antoninho é um caso diferente. Mesmo sem nunca ter uma grande conquista pelo Santos, tornou-se imortal. Sim, é bem verdade que foi vencedor enquanto treinador, mas em Vila Belmiro todos se recordam do fabuloso jogador que Antoninho foi. Até um apelido deram-lhe, para expressar o quão capaz foi: Arquiteto da Bola.

Nascido em Santos, em 13 de agosto de 1921, Antônio Fernandes começou a jogar futebol na praia e aos 16 anos vinculou-se ao Clube Atlético Vile. Ao Santos, chegou em 1940, convidado para período de testes. Rapidamente tornou-se titular, mas tempos depois teve período de afastamento, após desavença com o técnico Ademar Pimenta.

Tanto na meia-direita como na meia-esquerda, sabia pensar o jogo como poucos. A fabulosa qualidade técnica e visão de jogo, fazia com que os atacantes santistas tivessem várias chances de gol por jogo. Além disso, Antoninho chegava bem no ataque, tanto que marcou 144 gols com a camisa alvinegra.

Nas campanhas de 1948 e 1950, Antoninho comandou o Peixe que fez ótimas campanhas, porém não o suficiente para atingir o primeiro lugar. Os dois vice-campeonatos foram a melhor colocação dele como jogador. Mesmo sem conquistas, era o ídolo máximo da torcida.

O sucesso nunca rendeu-lhe convocações para a Seleção Brasileira, mas foi importante para o selecionado paulista. Em 1952, foi titular absoluto na conquista do Campeonato Brasileiro, à época disputado apenas por seleções estaduais – não havia competições nacionais interclubes.

Foram 402 jogos com a camisa que mais amou. Atuou poucas partidas pelo Palmeiras, em empréstimo exclusivo para a disputa do Torneio Rio-São Paulo de 1950 – o Santos não foi convidado para a competição. Em situação financeira difícil, os dirigentes santistas tentaram vender Antoninho ao rival, mas uma entrevista ao vivo acabou com a negociação: o craque foi às lágrimas e disse que jamais conseguiria atuar longe do clube que tanto amava.

Deixou o Santos em 1955 para duas temporadas derradeiras como jogador pelo Jabaquara. Voltou ao clube como auxiliar técnico e, em 1967, assumiu a equipe principal. Assim, levou o time do coração aos títulos: venceu três campeonatos paulistas, um Roberto Gomes Pedrosa (Brasileirão), além das Recopas Sul-Americana e Mundial.

4 – Pita

Pita fez parte da primeira geração de Meninos da Vila (Crédito: Santos FC)

Entre 1977 e 1984 Edivaldo Oliveira Chaves entrou em campo 408 vezes com a camisa do Santos e marcou 55 gols. Pita foi um verdadeiro maestro com a camisa do clube. Nascido em Nilópolis (RJ), cresceu em Cubatão, cidade vizinha de Santos. Nos campos e praias da Baixada Santista se destacou e chamou a atenção dos dirigentes da Portuguesa Santista. Dois anos depois já treinava nas categorias de base do Peixe.

Em novembro de 1977 o Santos fez uma mini excursão pelo interior argentino e o técnico Ramos Delgado, histórico zagueiro santista, lançou Pita pela primeira vez na equipe na vitória por 6 a 3 contra o Combinado C Juventud Antoniana / Gimnasia Ibura. Seu primeiro gol aconteceu já em fevereiro de 1978 em empate por 3 a 3 contra o Caxias pelo Brasileirão.

Mas foi no interminável Paulistão de 1978 que Pita alcançou seu maior feito com a camisa alvinegra. Disputado entre agosto de 1978 e junho de 1979, o certame estadual teve três turnos, semifinal e uma final disputada em três partidas. Foram 56 jogos no total, mas com final feliz para os santistas já comandados pelo histórico Chico Formiga. Ao lado de nomes como Ailton Lira, Juray, João Paulo, Nilton Batata, entre outros, os Meninos da Vila levaram a taça para a casa.

Pita também foi parte importante do time vice-campeão brasileiro em 1983 ao lado de nomes como Paulo Isidoro e Serginho Chulapa, que um ano depois ganharam o Paulistão. Sua despedida do Peixe foi em derrota para o Junior de Barranquilla (Colômbia) por 2 a 1, em Curaçao. Revidou uma agressão do adversário e foi expulso.

Foi negociado com o São Paulo pouco antes do estadual começar. Em troca vieram Zé Sérgio e Humberto, nomes importantes para a conquista do Paulistão de 1984. No rival da capital, Pita seguiu mostrando seu talento e foi peça importante na conquista de dois Paulistas e um Brasileiro. Também jogou pelo Racing Strasbourg (França), Fujita e Nagoya Grampus (ambos do Japão), Guarani e Inter de Limeira, onde encerrou a carreira. Atualmente é treinador de futebol.

5 – Giovanni

A classe era uma das magias de Giovanni (Crédito: Santos FC)

As passadas largas, a elegância, as arrancadas, os dribles. Os gols. O cabelo vermelho. O chute para a arquibancada. Giovanni entrou para a galeria de ídolos do Santos sem precisar levantar um título. Giovanni significou o orgulho de uma torcida que estava ferida há alguns anos. E que viu naquele jovem a esperança de dias melhores. Giovanni Silva de Oliveira foi brilhante em sua primeira passagem pela Vila Belmiro, entre 1994 e 1996, ao ponto de ser um dos maiores camisas 10 da história do clube após a Era Pelé.

Liderou uma equipe desacreditada e que só não foi campeã brasileira em 1995 por erros grosseiros da arbitragem encabeçada por Marcio Rezende de Freitas. Fez chover naquele certame e cravou de vez seu nome na história do Peixe na semifinal contra o Fluminense. Os 5 a 2 são tão valiosos quanto uma taça levantada.

Revelado pela Tuna Luso e com passagens por Remo e Paysandu, Giovanni chamou atenção dos dirigentes santistas após sua performance pela São-Carlense. Após um empréstimo de seis meses, o Alvinegro desembolsou R$ 300 mil para contratar o atleta e ainda contou com a ajuda de Pelé, que pagou metade do valor.

Na estreia substituiu Ranielli em vitória por 4 a 1 contra o Remo, em Belém, sua cidade natal, no dia 25 de setembro de 1994. O primeiro gol saiu no dia 30 de outubro em vitória por 1 a 0 contra o Paraná. Em 1995 seu futebol explodiu de vez e além de levar o Santos até a final do Brasileirão, foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira. Enquanto esteve no Peixe defendeu a amarelinha em seis partidas.

Em 1996 manteve a excelente fase e foi artilheiro do Paulistão. O Barcelona contratou o craque por U$S 7,8 milhões, valor recorde até então. Sua primeira despedida foi contra o Real Madrid, em vitória por 2 a 0 na Vila Belmiro, no dia 20 de junho de 1996.

Conquistou o Campeonato Espanhol, além de outras taças no clube catalão, e também jogou ao lado de nomes como Ronaldo Fenômeno e Rivaldo. Em 1999 foi para o Olympiakos, da Grécia, onde fez história até 2005, quando voltou ao Peixe com 33 anos. Atuou ao lado de Robinho e fez apresentações de gala como aquele 4 a 2 contra o Corinthians, anulado posteriormente devido ao escândalo de arbitragem. O chute que deu para a arquibancada no jogo remarcado resumiu o sentimento da torcida.

Em 2006 foi dispensado por Vanderlei Luxemburgo após uma partida pelo Paulistão. Ao fim da competição o Santos foi campeão, fazendo com que tecnicamente o atleta conquistasse o primeiro título pelo clube. Foi para o Al Hilal, da Arábia Saudita. Jogou também no Ethnikos Pireu (Grécia) e Mogi Mirim a convite de Rivaldo.

Em 2010, já com 38 anos, voltou ao Santos para ser uma espécie de líder e mentor da nova geração de Meninos da Vila, comandada por Neymar e Ganso. O time engrenou e Giovanni acabou não atuando com a frequência que gostaria. Foi campeão paulista e da Copa do Brasil como um reserva de luxo. Seu último jogo oficial foi contra o Atlético Goianiense, no dia 22 de maio de 2010, quando o Peixe bateu os donos da casa por 2 a 1.