Neymar é um dos jogadores mais importantes da história do Peixe (Crédito: Reprodução)

Por Fernando Ribeiro e Vinícius Cabral, especial para o DIÁRIO DO PEIXE

Os pesquisadores Fernando Ribeiro e Vinícius Cabral, que escrevem os textos Jogos para sempre e Lendas da Vila para o DIÁRIO DO PEIXE, selecionaram aqui os cinco maiores pontas do Alvinegro Praiano. O time mais ofensivo do mundo não poderia deixar de ter pontas dribladores e goleadores.

Os cinco escolhidos escreveram algumas das mais belas páginas de nossa história. Robinho e Neymar não foram autênticos pontas como Pepe, Edu e Dorval, que brilharam nos anos 60 e 70 quando a posição era uma das mais importantes do nosso futebol, mas eles se sentiam à vontade abertos pelos lados do campo.

1 – Pepe

Pepe é uma lenda da Vila e do futebol mundial (Crédito: Reprodução)

“Sempre digo que sou o maior artilheiro humano do Santos. Fiz 750 jogos, marquei 405 gols. O Pelé é um ET”. A frase é sensacional e repetida reiteradamente por Pepe, um dos maiores jogadores da história do Peixe.

Atleta de apenas um clube, vestiu a camisa alvinegra por 15 anos e colecionou conquistas neste tempo. Bicampeão sul-americano e mundial, hexacampeão brasileiro e onze vezes campeão paulista. Onze vezes. Disputou 16 edições, entre 1954 e 1969 e não sagrou-se campeão em apenas cinco oportunidades: 1957, 1959, 1963 e 1966. Pela Seleção Brasileira, foram 40 partidas e 22 gols. Esteve presente no elenco que venceu a Copa do Mundo em 1958 e 1962, mas não pode jogar em nenhuma das edições, ambas por lesões causadas nos amistosos preparatórios.

Um dos mais famosos Meninos da Vila, formou-se nas categorias amadoras do clube. Destaque desde muito cedo, ganhou inúmeros títulos na base. Promovido a profissional em 1954, quando estreou diante do Fluminense, pelo Torneio Rio-São Paulo, foi fundamental já no ano seguinte, na conquista do Paulistão. Foi autor do gol do título, na vitória sobre o Taubaté, trazendo à Vila Belmiro uma conquista que não vinha há 20 anos.

Tornou-se titular absoluto e ídolo da torcida santista. Dono de grande potência nos chutes com a perna esquerda, ganhou o apelido de “Canhão da Vila”. Foram vários os gols de falta, pênalti ou arremates fortes e certeiros. Firmou-se na Seleção Brasileira, mas lesões em momentos chaves impediram-lhe de disputar ao menos uma partida de Copa do Mundo. Ainda assim, ganhou dois títulos mundiais sendo protagonista, ainda que interclubes: em 1962 marcou gol na goleada em Lisboa, sobre o Benfica, e em 1963 suas bombas mudaram a história da decisão diante do Milan.

Fiel ao clube do coração, recusou propostas para ficar no Santos, onde se aposentou. Foram 741 jogos pelo Peixe, marcando 405 gols. Apenas Pelé, Roberto Dinamite (Vasco) e Zico (Flamengo) fizeram mais gols por um mesmo clube. Pepe pendurou as chuteiras em 1969, mas sua história com o Santos não cessou: foi o técnico do time campeão paulista em 1973.

2 – Neymar

Neymar chegou uma criança no clube, deixou o Peixe como um dos maiores da história do futebol brasileiro (Crédito: Reprodução)

Neymar é o melhor jogador brasileiro pós-Pelé? O debate por vezes esquenta as redes sociais, que deseja classificar o lugar histórico de um jogador ainda em atividade. Existem defensores da causa, indicando que o “menino Ney” é o principal futebolista brasileiro desde o surgimento do Rei do Futebol. Para nós, santistas, a discussão é ampliada, afinal seria ele o segundo maior jogador de toda a nossa história?

Sem querer responder esta perigosa enquete, o certo é que Neymar possui lugar especial em nossa prateleira de ídolos. Chegou à Vila Belmiro aos 11 anos e o clube criou categoria especial para poder acondicioná-lo na base santista. Trazido pelas mãos do eterno capitão Zito, o menino encantou em todas as categorias inferiores. Precoce, chegou aos profissionais em 2009, aos 17 anos de idade. Começou tímido, inclusive sendo chamado de “filé de borboleta” pelo técnico Vanderlei Luxemburgo devido seu físico franzino.

A explosão da carreira se deu em 2010, com a chegada de Dorival Júnior. Foram diversos dribles, gols, dancinhas e polêmicas, que tornaram Neymar estrela nacional. Junto a Paulo Henrique Ganso e Robinho, conduziram o Peixe ao inédito título da Copa do Brasil, além da emocionante conquista do Paulistão. Foi a primeira vez em 42 anos que o Santos conquistou dois grandes títulos em uma mesma temporada. O ano seguinte, 2011, Neymar foi ainda mais decisivo e quebrou novos tabus: liderou o Peixe rumo ao bicampeonato paulista (o primeiro em 43 anos) e ao tricampeonato da Copa Libertadores (48 anos depois da última conquista).

Ídolo máximo da torcida, cativou crianças e angariou novos torcedores ao clube. Em 2012, ano do centenário, conquistou o tricampeonato paulista e tornou-se o maior artilheiro após a Era Pelé. Ao longo de sua trajetória no Peixe foram 138 gols marcados – o 13º com mais tentos na história alvinegra. Foram 230 partidas com o manto até sua partida ao Barcelona, em 2013.

3 – Edu

Edu só chegou ao Santos indicado por Pelé, precisa dizer algo mais sobre seu futebol? (Crédito: Reprodução)

O Novo Rei. Esse era o apelido de Edu para alguns cronistas e torcedores. E não era sem motivo, afinal o ponta-esquerda foi um verdadeiro craque de futebol. Criava espaços com sua habilidade e inteligência e fez história nos 10 anos em que vestiu a camisa do Santos, entre 1966 e 1976.

Jonas Eduardo Américo nasceu em Jaú, em 1949. A herança futebolística foi grande, já que seu pai foi ponta do XV de Jaú. Chegou ao Santos por indicação de Pelé, pois as duas famílias tinham amizade no interior paulista. Ou seja, chegou recomendado pelo Rei do Futebol e com uma pressão imensa.

Treinou algumas vezes no infantil e depois foi para os aspirantes, em 1965. No início de 1966, foi efetivado pelo técnico Lula no elenco principal e desde então sua carreira deslanchou. Aos poucos foi ganhando espaço naquele time de lendas do futebol, entre eles Pepe, o maior ponta-esquerda da história do Santos.

Sua estreia foi no dia 03 de março de 1966 na vitória por 2 a 1 contra a Portuguesa, no Pacaembu, pelo Rio-São Paulo, quando entrou no lugar de Del Vecchio. Duas semanas depois estreou como titular e fez dois gols na goleada por 4 a 0 contra o Bangu pela mesma competição. Ganhou sequência como titular e foi convocado para a Copa do Mundo de 1966 com apenas 16 anos. Participou também das Copas de 1970 e 1974.

Pelo Santos foram 184 gols em 584 jogos, além de quatro títulos paulistas, um Rio-São Paulo, um Brasileiro, uma Recopa Sul-Americana e uma Recopa Mundial. Sua despedida do Peixe foi em novembro de 1976 quando marcou o gol da vitória em amistoso contra a Catanduvense.

Edu tinha problemas físicos que acabaram atrapalhando uma carreira mais longeva tanto no Santos quanto na Seleção. Em 1977 foi para o Corinthians e na sequência atuou por Internacional, Tampa Bay Rowdies (Estados Unidos), Monterrey (México), Nacional (AM), São Cristóvão (RJ) e Dom Bosco (MT), onde encerrou a carreira.

4 – Dorval

Dorval brilhou com a camisa do Santos nos anos 60 ao lado de Pelé, Pepe e companhia (Crédito: Santos FC)

Nascido em 26 de fevereiro de 1935, em Porto Alegre, Dorval Rodrigues começou sua carreira no Grêmio. Depois de cinco anos nas categorias amadoras, profissionalizou-se apenas quando mudou para o Força e Luz, também gaúcho. As boas apresentações valeram-lhe período de testes no Santos, já em 1956. Aprovado pelo técnico Lula, começou, assim, sua enorme trajetória no alvinegro praiano.

Dotado de grande velocidade e resistência física, Dorval era a opção ideal para acelerar as partidas pela faixa direita do campo. Além da qualidade ofensiva, oferecia também boas opções táticas para a defesa. Sua atuação mais recuada na final da Taça Brasil de 1962 garantiu a goleada por 5 a 0 diante do Botafogo, em pleno Maracanã. Foi um dos principais articuladores de jogadas ofensivas do time, sempre buscando o passe ou cruzamento para os companheiros marcarem. Ainda assim, anotou 198 gols com a camisa alvinegra. Com o destaque atingido, disputou sete partidas pela Seleção Brasileira, mas infelizmente não alcançou o sonho de participar de uma Copa do Mundo.

Era um dos jogadores mais festivos daquele elenco na década de 60. São inúmeras as histórias de noitadas com colegas de equipe, porém nunca teve o desempenho prejudicado. Estava sempre entre os melhores condicionados fisicamente, quase nunca acima do peso. Foi apelidado de “Macalé” pelos companheiros por parecer-se com o humorista e ator Tião Macalé.

Pelo Peixe ganhou seis vezes o Paulistão, cinco vezes a Taça Brasil, quatro Torneios Rio-São Paulo, além dos dois títulos sul-americanos e mundiais. Foram 612 jogos em seu tempo como jogador santista. Saiu do clube em algumas oportunidades, mas sempre retornava. Em 1957, atuou alguns meses emprestado ao Juventus, da Mooca. Em 1960 jogou um ano pelo Bangu. Em 1964, atuou pelo Atlético Paranaense e pelo Racing, da Argentina. Saiu do Peixe definitivamente em 1967, quando seguiu ao Palmeiras.

5 – Robinho

Robinho é o jogador mais importante da história do Santos após a Era Pelé (Crédito: Santos FC)

O dia 15 de dezembro de 2002 jamais sairá da memória dos santistas. Foi naquela tarde que o Santos saiu de uma fila que já durava intermináveis 18 anos e muito por conta de um certo camisa 7. Franzino, leve, porém corajoso e abusado, Robinho foi o dono do jogo e entrou para a história do futebol. De quebra levou junto o lateral do Corinthians Rogério. As oito pedaladas que resultaram no pênalti não só abriram caminho para o título, como imortalizaram o menino nascido em São Vicente.

Robinho também apareceu naquele jogo no Morumbi quando a situação estava desesperadora ao fazer as jogadas dos gols de Elano e Léo. Desafogou um grito entalado na garganta da torcida. Tudo isso com apenas 18 anos. É o jogador mais importante da história do Santos após a Era Pelé. Mas resumir Robinho ao final do Brasileiro de 2002 é um erro imenso. Do tamanho de seu futebol.

Robinho foi muito mais. Desde pequeno aprontava pelos campos, quadras e praias da Baixada Santista. Aos 12 já estava nas categorias de base do Peixe. Estreou pelo time profissional no melancólico Rio-São Paulo de 2002 em vitória por 2 a 0 contra o Guarani ao entrar no lugar de Robert, que fez os dois gols da partida. Seu primeiro gol saiu em julho daquele ano em amistoso contra o Comercial, antes do início do Campeonato Brasileiro. Ao todo foram 111 bolas na rede em 253 partidas somando todas as passagens (2002-2005, 2010 e 2014-2015).

Ajudou a levar o time à final da Libertadores de 2003, 40 anos depois da última aparição na decisão do torneio continental. Junto a Diego e companhia trouxe de volta a alegria à Vila Belmiro com seus dribles e jogadas desconcertantes. Um ano depois foi o protagonista do título brasileiro novamente. Era uma estrela consolidada, jogando na Seleção (foi convocado para as Copas de 2006 e 2010) e sondado pelos maiores clubes do mundo. Em 2005 foi contratado pelo Real Madrid por U$S 30 milhões, maior transação da história na época.

Em 2010, quando defendia o Manchester City, foi emprestado ao Santos para poder jogar mais e consequentemente ir para a Copa do Mundo. Foi peça fundamental para o crescimento de Neymar e Ganso e de quebra conquistou o Paulistão e a Copa do Brasil. No retorno ao futebol europeu, acertou com o Milan onde ficou até 2014, quando novamente voltou ao Peixe para conquistar o Paulistão de 2015. Seu último jogo pelo Santos foi o empate em 2 a 2 contra o Sport pela quarta rodada do Brasileirão de 2015.

Foi para o Guangzhou Evergrande, da China, e em 2016 voltou ao Brasil para defender o Atlético Mineiro, causando grande revolta em parte da torcida santista. Em 2018 foi para o Sivasspor e depois para o Basaksehir, seu atual clube, ambos da Turquia.