Renato colocou o terno em sua despedida dos gramados (Crédito: Santos FC)

Por Fernando Ribeiro e Vinícius Cabral, especial para o DIÁRIO DO PEIXE

Em muitos times os maiores volantes da história do Santos seriam meias, mas no clube mais goleador do planeta é função deles começar os ataques. Os pesquisadores Fernando Ribeiro e Vinícius Cabral, que escrevem os textos Jogos para sempre e Lendas da Vila para o DIÁRIO DO PEIXE, selecionaram aqui os cinco maiores jogadores dessa posição no Alvinegro Praiano. Todos eles craques e marcantes na história do clube. Confira abaixo essa seleção.

1 – Zito

Em homenagem a Zito, faixa de capitão do Peixe agora não leva mais o tradicional C e ,sim, o Z (Crédito: Santos FC)

O torcedor que chega em Vila Belmiro encontra, em frente ao portão 6, a prova da importância de Zito para o Santos: lá está a estátua do eterno capitão santista, com cerca de seis metros de altura. Pelo Alvinegro, o volante conquistou todos os títulos possíveis para um atleta de sua geração: Paulista, Rio-São Paulo, Brasileiro, Libertadores, Mundial e diversas competições internacionais de grande valia à época. Além do imenso sucesso com o clube, Zito foi titular no bicampeonato mundial da Seleção Brasileira em 1958 e 1962 (marcou, inclusive, gol na final de 1962).

Nascido em Roseira (SP), em 8 de agosto de 1932, José Ely Miranda chegou ao Santos em 1925, vindo do Taubaté, clube onde se profissionalizou. Aos poucos, foi conquistando seu espaço e tornou-se peça fundamental da equipe. No início, atuava pela linha intermediária, por vezes até como um ala direito. Fixou-se na faixa central do campo, onde teve muito sucesso. Dono de resistência física invejável, estava em toda parte do campo, seja para dar combate aos adversários, seja para cobrar e incentivar os companheiros. O espírito de liderança fazia com que comandasse o elenco e fosse respeitado por todos.

Em campo, era como se fosse o treinador da equipe, sempre sem passar por cima de seus superiores. Quando o time começava a golear seus adversários, era o primeiro a cobrar seriedade dos colegas. “O jogo está 0 a 0”, gritava a plenos pulmões, deixando claro que a equipe não podia esmorecer. Muitos analistas consideram Zito fundamental no alto índice de concentração da equipe. Sua preocupação com os companheiros era tanta, que orientava os mais jovens nas renovações contratuais, não permitindo que fossem iludidos ou enganados pelos dirigentes. Defendia o Santos e seus companheiros da mesma maneira, com muita garra e respeito. Com isso, ganhou o apelido de “Gerente”.

Foram 733 partidas pelo Santos, o terceiro com mais aparições pelo clube. Marcou 57 gols, entre os anos de 1952 a 1967, quando aposentou-se. Mesmo longe do futebol, jamais afastou-se do time do coração. Atuou em várias funções dentro do clube, com destaque para a participação nas categorias de base. Foi Zito o responsável por trazer ao clube uma promissora criança que destacava-se no futebol de salão santista. O nome do menino? Neymar.

2 – Clodoaldo

Clodoaldo foi o substituo de Zito no Peixão. Seu nome é uma lenda na Vila Belmiro (Crédito: Santos FC)

Para falar de Clodoaldo devemos lembrar de Zito, o maior volante da nossa história. Com apenas 17 anos, Corró foi o sucessor do eterno capitão. Clodoaldo não só passou a entrar em algumas partidas no lugar de seu ídolo, como formou com o veterano a dupla titular de volantes em 11 ocasiões.

O sergipano chegou ao Santos para atuar nas categorias de base após chamar a atenção dos dirigentes alvinegros nos jogos de várzea da cidade. Morou nos alojamentos de Vila Belmiro e conta com orgulho que não foram poucas as vezes em que dormiu na arquibancada do estádio nas noites quentes de Santos.

Extremamente dedicado na marcação e técnico com a bola nos pés, Clodoaldo caiu nas graças do técnico Antoninho rapidamente. Sua estreia ocorreu na vitória contra o Olímpio (Santa Catarina). Na oportunidade, o jovem substituiu Joel Camargo, que estava improvisado na meia cancha.

Clodoaldo ainda passou várias partidas no banco, vendo a dupla de volantes sendo formada por nomes como o próprio Joel Camargo, Zito, Lima, entre outros craques. Sua estreia no time titular ocorreu contra a Portuguesa em empate por 2 a 2, em abril de 1967.

Entre suas 512 partidas com a camisa santista, o volante foi peça chave em diferentes épocas, afinal, defendeu o time de 1966 a 1980. Foi um dos alicerces do elenco tricampeão paulista entre 1967 e 1969, atuou também na polêmica final de 1973, quando o Santos dividiu o título com a Portuguesa, e foi um dos líderes do jovem time campeão estadual de 1978, geração que ganhou o apelido de Meninos da Vila.

Além desses cinco títulos do Paulistão, Clodoaldo conquistou também o Brasileiro, Recopa Sul-Americana e Mundial (todos em 1968), além de taças amistosas como o tradicional Hexagonal do Chile. Em meio às glórias com a camisa alvinegra, Clodoaldo foi peça chave da Seleção Brasileira no título da Copa do Mundo de 1970. Sua última atuação com a camisa do Santos foi na derrota para a seleção da Romênia, em 1980.

Após sair do Peixe, Clodoaldo jogou algumas partidas pelo Nacional de Amazonas e passou quatro meses no New York United, dos Estados Unidos. Depois de encerrada a carreira atuou como treinador, diretor, gerente e vice-presidente do Santos.

3 – Mengálvio

Mengálvio ganhou tudo com a camisa do Peixe (Crédito: Santos FC)

Dono de qualidade técnica elevada, Mengálvio fez história durante os nove anos que atuou pelo Santos. Suas passadas eram largas e lentas, porém das mais elegantes. Tinha no ótimo passe uma de suas principais características, além da grande noção de posicionamento – fazendo com que nunca chegasse atrasado nas jogadas.

Mengálvio Pedro Figueiró nasceu em Laguna (SC), em 17 de outubro de 1939, mas só foi registrado pelos pais dois meses depois (em seus documentos, consta o dia 17 de dezembro como data de nascimento). Começou no clube Barriga Verde, de sua cidade natal, mas destacou-se pelo Aimoré, clube da cidade de São Leopoldo, também de Santa Catarina. Seu irmão, Luís Gonzaga Figueiró, já era jogador do Aimoré e facilitou o acerto. Os irmãos voltariam, inclusive, a se encontrar em Vila Belmiro – Figueiró disputou nove partidas pelo Peixe, entre 1961 e 62.

Com a saída de Jair Rosa Pinto, em 1959, o técnico Lula buscou um substituto. O nome de Mengálvio foi indicado pelo zagueiro Calvet, recém-chegado ao clube, que o conhecia do futebol do sul do país. O acerto foi rápido e “Menga” estreou em 19 de abril de 1960, no empate diante da Portuguesa (2 a 2), pelo Torneio Rio-São Paulo. Tornou-se então peça fundamental da equipe, tomou conta da camisa 8 e foi multicampeão: seis vezes campeão paulista, cinco vezes campeão brasileiro, duas vezes campeão sul-americano e mundial. O destaque no Santos, naturalmente, conduziu-o à Seleção Brasileira – foram 14 jogos com a camisa amarelinha. Esteve no elenco campeão do mundo em 1962, no Chile.

Bonachão e desligado, era alvo das brincadeiras dos colegas de equipe. Apelidado de “Pluto”, coleciona histórias das mais engraçadas e alega, inclusive, que muitas delas são fantasiosas. Bem humorado, diverte-se com as situações. Em 1967, foi emprestado ao Grêmio (RS), porém em menos de seis meses retornou ao clube. Seguiu, depois de um ano, para a Colômbia, onde foi campeão nacional pelo Millonarios. Pelo Peixe, foram 369 jogos, com 28 gols marcados.

4 – Renato

Renato honrou a camisa do Peixe. No final da carreira, usava a braçadeira de capitão com o Z de Zito (Crédito: Santos FC)

Renato atuou de terno e gravata em 424 partidas pelo Santos. Com sua elegância e eficiência, conquistou títulos e fez história no clube. Mas antes de ser elevado ao status de ídolo, o volante passou alguns momentos turbulentos em Vila Belmiro.

Ainda conhecido por Renatinho, chamou a atenção da diretoria santista após se destacar pelo Guarani, em 2000. Estreou no dia 29 de julho em amistoso sem gols contra o São Bento e não saiu mais da equipe comandada pelo técnico Giba. Versátil, por vezes atuava mais adiantado, como um terceiro homem de meio-de-campo. O primeiro de seus 33 gols pelo Santos foi contra o Vasco já pelo Rio-São Paulo do ano seguinte.

Poucos lembram, mas foi de Renato o gol santista na fatídica semifinal do Paulistão 2001, quando o Peixe foi eliminado aos 47 do segundo tempo pelo Corinthians. Perdeu espaço com Cabralzinho e Celso Roth e só foi ter sua titularidade de volta após a chegada do técnico Leão no meio de 2002. Atuou nas 31 partidas do Peixe no Brasileirão e ainda marcou o segundo gol na final contra o Corinthians. E mais: além de ser campeão, não tomou nenhum cartão amarelo na competição, um feito e tanto tratando-se de um volante.

Renato foi peça chave nas campanhas que renderam ao Santos o vice-campeonato da Libertadores e Brasileiro 2003 e foi, na mesma época, convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira. No ano seguinte, atuou em seis partidas do certame nacional antes de acertar sua transferência ao Sevilla. O Santos acabou campeão ao final da competição, conferindo a Renato seu segundo título pelo clube.

Na Espanha deixou sua marca entre 2004 e 2011. Foi o segundo jogador estrangeiro que mais atuou pelo Sevilla e conquistou títulos da Copa da Uefa, Copa do Rei, entre outros. Renato procurou o Santos quando quis voltar ao Brasil, mas o negócio não saiu e acabou indo para o Botafogo, clube onde passou três anos.

Em 2014 voltou ao Peixe e fez sua reestreia em empate contra o Goiás pelo Brasileirão. No ano seguinte, Renato foi novamente um dos alicerces do time. Atuando mais recuado, dava espaço para atletas mais jovens como Thiago Maia chegarem ao ataque. Na sua volta à Vila Belmiro conquistou os Paulistas de 2015 e 2016. Em 2018, já com 39 anos fez sua última partida pelo Santos na vitória por 3 a 2 contra o Atlético Mineiro, na sua casa Vila Belmiro. Atualmente é gerente de futebol do clube.

5 – Dema

Dema marcou época com a camisa do Peixe na década de 80 (Crédito: Reprodução)

Waldemar Barbosa, o Dema, foi um volante incomum. Com a bola nos pés demonstrava técnica rara e apurada, mas quando estava sem ela tornava-se um marcador implacável, por vezes até violento. Natural de Olímpia (SP), nasceu em 22 de fevereiro de 1959. Deu os primeiros passos no futebol profissional na Portuguesa de Desportos, mas chegou ao Peixe, em 1983, oriundo do Comercial, de Campo Grande (MT).

Desembarcou em Vila Belmiro sem muito alarde, mas junto a estrelas do calibre de Paulo Isidoro e Serginho Chulapa, em uma equipe montada com altos investimentos. Estreou com a camisa alvinegra em 19 de janeiro, na vitória em amistoso sobre o América-RJ (2 a 0). Titular absoluto da camisa 5, formou belo meio campo junto a Paulo Isidoro e Pita. O bom desempenho quase levou o Peixe ao título – que escapou na final, mas o talento de Dema acabou reconhecido. Foi eleito o melhor volante do torneio e ganhou o prêmio Bola de Prata, da revista Placar (levaria, também, o prêmio em 1985).

O ápice de Dema pelo Santos foi o Campeonato Paulista de 1984. Já reforçado por Rodolfo Rodríguez, Humberto e Zé Sérgio, o Peixe faturou o título estadual, que não vinha desde 1978. Na partida final, diante do Corinthians, o volante teve atuação estupenda. Confiante e capaz, foi convocado para a Seleção Brasileira em 1985, pelo técnico Evaristo de Macedo. Estreou com a camisa amarelinha em 25 de abril de 1985, na vitória por 2 a 1 sobre a Colômbia. Atuou mais três vezes pelo Brasil, mas com a troca de técnico (Telê Santana assumiu), perdeu a vaga na Copa do Mundo de 1986.

O ano de 1986, inclusive, foi decisivo para Dema: uma lesão aparentemente simples, no joelho, teve complicações e o volante ficou 546 dias longe dos gramados. Foram duas cirurgias, uma artroscopia e uma correção dos ligamentos, que alteraram o curso da carreira do jogador.

Em 1987, depois de recuperado, Dema deixou o Santos – foi jogar na Portuguesa Santista. Pelo alvinegro praiano, foram 150 jogos e um gol marcado (em amistoso contra o Votuporanguense, em 1984). Quem acompanhou sua carreira pelo Peixe, até hoje derrete-se pelo seu ótimo futebol e, também, pela garra e vontade com que defendia o clube que aprendeu a amar.