Rebaixamento do Santos completa um ano (Foto: Raul Baretta / Santos FC)

06 de dezembro de 2023. Um dia que ficou marcado como um dos mais difíceis para os santistas. Para mim, foi um dia longo, cheio de expectativa, mas que terminou em forma de pesadelo. Passado um ano, a ferida ainda está presente. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, a torcida mantém a esperança de que o clube possa se reerguer e voltar a ser protagonista.

Naquela data, o Santos vivenciou o que foi, até então, o maior golpe de sua história: um rebaixamento inédito. Algo que, no fundo, todos sabiam que parecia inevitável. As gestões ruins acumuladas ao longo dos anos já indicavam que este cenário poderia ocorrer, mesmo que ninguém quisesse admitir. 2023 deixou claro que apenas a camisa e o nome não são suficientes para sustentar um clube. É necessário ter gestão e planejamento, algo que faltou ao Santos por muito tempo.

Acompanhei todos os jogos do Santos na Vila Belmiro naquela temporada. No dia da partida contra o Fortaleza, mesmo com 24 de 27 combinações possíveis para escapar do rebaixamento, poucos acreditavam. Muitos torcedores com quem conversei estavam contando com tropeços de Vasco e Bahia, pois não confiavam que o Santos poderia sair dessa situação sozinho.

O jogo começou, e o lado torcedor tomou conta na apreensão. Quando Marinho marcou o primeiro gol para o Fortaleza, em frente às tribunas, foi impossível conter as lágrimas. Acompanhei as atualizações dos outros jogos pelo celular. O Bahia goleava o Atlético-MG, enquanto o Vasco vencia o Red Bull Bragantino, o que naquele momento fazia com que o Santos se despedisse da Série A.

No segundo tempo, o Vasco sofreu o empate, junto a isso, o gol de Messias para também empatar para o Peixe, trouxe um alívio momentâneo, pois ali, o Santos não estava mais sendo rebaixado. Mas, uma notificação indesejada chegou e comunicou a expulsão de Léo Realpe do Bragantino. Pouco depois, o Vasco marcou o segundo, e o Santos estava virtualmente rebaixado.

Nos minutos finais, o Santos tentou de todas as formas. A placa subia com mais sete de acréscimo, o goleiro João Paulo foi para a área, o clima do lado de fora já era de guerra com barulho de bombas, até que veio o balde de água feia. Lucero aproveitou o goleiro fora do gol e marcou quase do meio de campo, selando o destino do clube.

O apito final confirmou o rebaixamento. Me mantive dentro das tribunas, tomado por lágrimas e desespero. Outros colegas jornalistas tentaram me consolar, enquanto o ambiente ao redor da Vila era caótico.

Mesmo em meio ao caos, precisei me recompor para cumprir minha função. Participei da coletiva, onde Alexandre Gallo falou em lugar do técnico. Depois, fui até o gramado, olhei para o céu e tentei entender o que havia acontecido. Vi jogadores deixando o estádio e senti vontade de perguntar: “Por que fizeram isso com o Santos?”. Deixei a Vila Belmiro apenas às 3h30 da manhã, voltei para casa às 7h, e três dias depois estava de volta para acompanhar as eleições que deram a vitória a Marcelo Teixeira.

Foi um momento doloroso. Eu não sabia o que dizer ou sentir naquele dia. Foi uma mistura de indignação pela gestão que levou o clube a essa situação e tristeza pelo Santos, que sempre foi parte da minha vida. Não foi fácil lidar com o profissionalismo necessário na cobertura jornalística, enquanto o torcedor dentro de mim estava devastado. Mas a missão de continuar cobrindo o clube era inegociável. Afinal, “Com o Santos, onde e como ele estiver” não é apenas uma frase, é um compromisso.

Um ano depois, o Santos atingiu os objetivos traçados para 2024, incluindo o retorno à elite do futebol brasileiro. Mas ainda há dúvidas sobre o futuro. Apesar das conquistas, as práticas que levaram ao rebaixamento ainda não parecem completamente superadas. A torcida, que sempre esteve ao lado do clube, espera que os dirigentes aprendam com os erros e entendam que o Santos pertence a ela. O desejo é que nunca mais seja necessário reviver aquele pesadelo. Está na hora de iniciar uma reconstrução verdadeira.